quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

OFICINA: É FAZENDO QUE SE APRENDE




OFICINA DE BONECA ABAYOMI

Tradição vinda da África, a boneca Abayomi - palavra de origem iorubá (tribo africana), expressa a evolução de um sentimento traduzido como dor. Em condições insalubres, dentro de navios negreiros, vinham ho­mens, mulheres e crianças negras para serem vendidos como escravos. Devido às péssimas condições de acomodação destes navios, as crianças ficavam agitadas, in­quietas e doentes. Muitas morriam ali mesmo. Para minimizar tamanho sofrimento, as mães arrancavam a barra de suas saias e criavam bonecas com tiras de pano, chamadas Abayomi, para seus filhos brincarem e assim poderem acalmá-los e distraí-los.
Abayomi significa "ENCONTRO PRECIOSO" e pode ser traduzido como: "Ofe­reço para você o melhor que tenho em mim". As bone­cas Abayomi são sempre negras, feitas de maneira muito simples, com sobras de panos amarrados e sem costuras. Poder trazer para sala de aula esta história rica em va­lores, cultura, superação, sentimentos e lição de vida é criar oportunidade para que as pessoas conheçam mais sobre a cultura africana, que é uma das mais importan­tes na formação do povo brasileiro.
 O presentear com a boneca  Abayomi transcende o simples gesto de “dar uma boneca a alguém” ao ofertar  uma Abayomi , você estará oferecendo o melhor de si com carinho e desprendimento, já que as mães africanas faziam  as bonecas para as filhas com o que  elas tinham de melhor naquele momento... as barras de suas saias:
VOCÊ VAI PRECISAR DE:
●Meia fina de nylon (preta), ou tiras de tecido preto para o corpo;
●Retalhos de tecidos coloridos para as roupas;
●Fitas de bebê ou pedaços de lãs coloridas para adornar os cabelos;
●Linha fina para amarrar as extremidades: pés e mãos.

COMO FAZER:
●Para começar estimule sua criatividade e... Mãos à obra!
●Cortar cinco tiras(10 ou 15 cm) de meia de nylon, para o corpo e membros.
●Juntar as cinco tiras e amarrar com fio para formar a cabeça e separar os dois braços; depois formar o quadril para separar as pernas.
●Dar nós nas pontas para definir cabelos, mãos e pés.
●Recortar tecidos coloridos para fazer as roupas.
●Se desejar pode amarrar uma alça atrás da cabeça para pendurar ou utilizar como chaveiro.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Quando me descobri negra por Bianca Santana



Sou negra há menos de um ano. Antes, era morena. Minha cor era praticamente travessura do sol. Era morena para as professoras black.girl white.mask do colégio católico, coleguinhas — que talvez não tomassem tanto sol — e para toda a família que nunca gostou do assunto. “Mas a vó não é descendente de escravos?”, eu insistia em perguntar. “E de índio e português também”, era o máximo que respondiam sobre as origens da avó negra. Eu até achava bonito ser tão brasileira. Talvez por isso aceitasse o fim da conversa.
Em agosto do ano passado, quando fui fazer uma reportagem na Câmara Municipal, passei pela rua Riachuelo onde vi a placa “Educafro“. Já tinha ouvido falar sobre o cursinho comunitário, mas não conhecia muito bem a proposta. Entrei. O coordenador pedagógico me explicou a metodologia de ensino com a cumplicidade de quem olha um parente próximo. Quando me ofereci para dar aulas, seus olhos brilharam. Ouvi que como a maioria dos professores eram brancos, eu seria uma boa referência para os estudantes negros. Eles veriam em mim, estudante da Universidade de São Paulo e da Faculdade Cásper Líbero, que há espaço para o negro em boas faculdades.
Saí sem entender muito bem o que tinha ouvido. Fui até a Câmara dos vereadores, fiz a entrevista, e segui minha rotina. Comecei a reparar que nos lugares onde freqüento as pessoas também não tomam tanto sol. O professor do Educafro toma. Será por isso que ele me tratou com tanta cumplicidade?
Pensei muito e por muito tempo. Não identifiquei nada de africano nos costumes da minha família. Concluí que a ascensão social tinha clareado nossa identidade. Óbvio que somos negros. Se nossa pele não é tão escura, nossos traços e cabelos revelam nossa etnia. Minha mãe, economista, funcionária de uma grande empresa, foi branqueada como os mulatos, que no século XIX passavam pó-de-arroz no rosto porque os clubes não aceitavam negros.
Eu fui branquedada em casa, na escola, no cursinho e na universidade. Como afirma o cientista político Francisco Weffort, no texto Branqueamento, “a expropriação imaginária das glórias dos negros o branqueamento apagou, especialmente para os pobres, o exemplo de líderes que podiam sugerir-lhes outros caminhos, além da humilhação cotidiana”. Ainda em busca de identidade afirmo com alegria que sou negra há menos de um ano. E agradeço ao professor que pela primeira vez, em 21 anos, fez o convite para a reflexão profunda de minhas origens.

Fonte: Bianca Santana

sábado, 26 de janeiro de 2013

Abre Caminho - Mariene Castro



População negra escravizada no Brasil é detalhada em Censo de 1872

censo 1872 
Marcado por um cenário de conflitos e protestos pelo fim da escravidão, o século XIX no Brasil foi o único do período colonial a ter um censo completo da população de escravizados. Os dados deste censo foram disponibilizados pelo Núcleo de Pesquisa em História Econômica e Demográfica da Universidade Federal de Minas Gerais (NPHED/UFMG) e pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado (Fapemig).  O Censo, feito em 1872, foi realizado com sucesso como parte das políticas inovadoras de D. Pedro II. O resultado foi o registro de 10 milhões de habitantes, onde a população escrava correspondia a 15,24% desse total. Os 10 milhões de pessoas estavam distribuídos em 21 províncias, sendo cada uma subdividida em municípios que, por sua vez, eram divididos em paróquias. Ao todo, eram 1.440 paróquias, as unidades mínimas de informação, que serviram de base para o mapa disponibilizado.
O recenseamento é considerado bastante completo por trazer o único registro oficial da população escrava nacional, os imigrantes separados por nacionalidade e fazer, ainda, um inventário inédito das etnias indígenas. De acordo com o levantamento, 58% dos residentes no país se declaravam pardos ou pretos, contra 38% que se diziam brancos. Os estrangeiros somavam 3,8%, entre portugueses, alemães, africanos livres e franceses. Os indígenas perfaziam 4% do total dos habitantes. Além da contagem da população, os documentos apresentam informações específicas sobre pessoas com deficiência, acesso à educação e profissões exercidas, entre outras. Por exemplo, a profissão de lavrador era a que tinha o maior número de trabalhadores na época, seguida por serviços domésticos. Entre as profissões liberais, a de artista tinha maior representatividade, inclusive entre a população escrava.
Censo de 1872 – De acordo com o demógrafo Mario Rodart, coordenador do Núcleo de Pesquisa Histórica Econômica e Demográfica da UFMG, um dos responsáveis pela digitalização do Censo, àquela época o país já pensava estratégias para acabar com a escravidão e passava por um processo racista de branqueamento da população. “O foco das políticas públicas era todo nesse sentido. Era necessário mapear quem estava vindo da Europa”, disse. O coordenador conta que a realização de um ambicioso levantamento populacional num país de dimensões continentais e dificuldades de transporte foi uma grande empreitada daquele século. “Questionários foram enviados para 1.440 paróquias de todo o país. Em cada uma delas foi criada uma comissão censitária, responsável por levar uma cópia do questionário a cada casa”, explicou Rodart.
As informações diziam respeito a sexo, raça, estado civil, religião, alfabetização, condição (escravo ou livre), nacionalidade e profissão. O questionário era preenchido por cada chefe de família e devolvido à comissão competente. Quem não o respondesse era penalizado com multa. Os resultados eram encaminhados para a capital onde eram contabilizados manualmente para compor o censo nacional. São essas as informações hoje disponíveis por meio da internet. A digitalização e correção dos dados (erros de soma e agregação) começaram há 30 anos no Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG) e só agora foram concluídos. A partir de um programa é possível utilizar o censo de 1872 na forma de base de dados, acessando tabelas configuradas na época e a combinação de elementos de acordo com o objetivo da busca.
Racismo – Em resultados detalhados, o Censo de 1872 aponta o total da população de estrangeiros no Brasil: 382.132. Separa os brancos por origem. São 125.876 portugueses, 40.056 alemães e 8.222 italianos, entre outras nacionalidades. Os negros eram considerados todos do mesmo grupo: africanos. Segundo o documento eram 176.057 africanos vivendo no país, porém, divididos apenas entre escravos (138.358) e alforriados (37.699). A partir das informações é notável ainda, o início da política de “embranquecimento” do povo, com a chegada dos primeiros grupos de imigrantes europeus. “A solução para o que era visto como um problema (a população negra e indígena) era o projeto de embranquecimento”, afirma José Luis Petruccelli, pesquisador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Em 350 anos de tráfico negreiro, entraram no país cerca de 4 milhões de africanos. Entre 1870 e 1930 vieram morar aqui praticamente 4 milhões de imigrantes europeus”, compara.
Abolicionismo – Quando o Censo foi feito, acabava de entrar em vigor no Brasil a Lei do Ventre Livre (28 de setembro de 1871) que tornava livres as crianças nascidas de mulheres escravas. Consequência de pressões nacional e internacional, ela foi sancionada em um momento em que o Brasil ainda registrava um significativo número de escravizados. Os motivos que levaram o Governo Imperial a se empenhar em registrar os dados censitários da população da época são, até hoje, motivo de debate entre especialistas. Em 1885 foi promulgada a Lei dos Sexagenários, tornando libertos os escravos com mais de 60 anos. A Abolição da Escravatura ocorreu somente em 1888.O Brasil foi o último país a decretar a abolição.
Fonte e texto F. Palmares

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

SUA MAJESTADE "O REI DO RITMO"!



Ele não pôs beebop em seu samba, porque o Tio Sam pode até ter tentado, mas jamais conseguiu tocar um tamborim. Apesar do codinome americanizado, Jackson do Pandeiro dominou as mais diferentes formas da gente brasileira ritmar

Por Oswaldo Faustino


Dizem as boas línguas que a pernambucana de Timbaúba, Flora Maria da Conceição, conhecida como Flora Mourão, nas feiras onde cantava coco e se acompanhava ao pandeiro, só não tocou seu instrumento um único dia: 31 de agosto de 1919. Nessa data, ela estava dando à luz, no Engenho Tanques, no município de Alagoa Grande, um menino franzino, batizado com o nome de José Gomes Filho. É obvio que foi uma homenagem ao pai da criança, um oleiro também nascido naquela localidade. Entre os dotes paternos na olaria e a criatividade rítmica materna, o garoto escolheu a segunda, principalmente depois que a mãe o presenteou com um pandeiro.
Fora os cocos cantados por Flora e nadar nos rios Mamanguape e Mandaú, e na Lagoa do Paó, o que o moleque mais gostava era de assistir a filmes de faroeste, em especial quando o mocinho era interpretado pelo ator Jack Perrin, daí ele se autoapelidar de Jack. E foi como Jack que, ainda aos seis anos, começou a substituir o zabumbeiro que acompanha a mãe nas feiras, função que, aos dez, conquistou definitivamente.
A década de 1930 encontra Jack trabalhando com ajudante de padeiro, em Campina Grande, e assíduo frequentador da zona do baixo meretrício na cidade, onde acompanha os músicos com o instrumento que ganhou da mãe. Agora já o chamam de Jack do Pandeiro. No pastoril, porém, é o palhaço Parafuso. No último ano da década, forma com Zé Lacerda a dupla humorística Café com Leite, que se apresenta em pensões e até no cabaré, onde ele também participa de uma orquestra que toca ritmos como o blues, o jazz, o chorinho, o maxixe, a rumba, o tango e o samba, entre outros.
Quando a Segunda Guerra Mundial chega às costas do Brasil, em 1942, o encontra jogando de goleiro no Central de Campina Grande. Dois anos depois, ele tem um entrevero com pracinhas retornados da guerra e foge para João Pessoa, onde assina seu primeiro contrato com uma rádio, a Tabajara, e integra uma orquestra de jazz. Porém, seu forte mesmo são as emboladas, os sambas, os cocos, o frevo, os maracatus e outros ritmos de seu povo.
Em 1947, nasce uma nova formação da dupla Café com Leite, desta vez com Rosil Cavalcanti. O curioso é que Jack se pinta de branco e toca violão e Rosil, pintado de preto, tocava pandeiro. Um ano depois o filho de dona Flora já está no Recife, integrando a orquestra Jazz Paraguary, da Rádio Jornal do Commercio. Foi lá que o locutor Ernani Séve deu-lhe a primeira oportunidade para cantar e o rebatizou de: "Jackson do Pandeiro, que é mais fácil para se pronunciar", argumentou.
Em sua coluna eletrônica Meu Lote, Nei Lopes destacou um grade compositor afrorecifense chamado Edgar Ferreira (1922 - 1995), que Jackson conheceu num dos terreiros de candomblé que frequentava. Inventor de um sub-ritmo chamado rojão, Ferreira compôs alguns dos grandes sucessos de Jackson do Pandeiro como: Forró em Limoeiro (1953); Um a um (1954); Vou gargalhar (1954), Cremilda (1955); Ele disse (1956); e Dezessete na corrente, em parceria com Manoel Firmino Alves (1958). O maior sucesso do "rei do ritmo", porém, é Chiclete com Banana, composta em 1959 por sua mulher e parceira de shows, a cantora e dançarina, Almira Castilho, e o magérrimo humorista baiano, Waldeck Artur de Macedo, conhecido, ironicamente, por Gordurinha.
Tanto a biografia de Jackson do Pandeiro, que o diabetes nos roubou, em Brasília, no dia 10 de julho de 1982, quanto a lista de ritmos que ele dominava são intermináveis. Confesso que me emocionei bastante ao assistir ao filme Gonzaga - de Pai para Filho, do cineasta Breno Silveira. Será que alguém já pensou em transformar em cinema também a vida desse que, como Gonzagão, internacionalizou todas as formas populares de cantar do nosso povo nordestino? Certamente terá momentos muito engraçados e outros extemamente comoventes. Afinal, o compositor-filósofo Billy Blaco, já dizia em seu Canto Chorado, tão bem interpretado por Jair Rodrigues na Bienal do Samba, da TV Record, em 1968: "O que dá pra ri dá pra chorar..."

Revista Raça Brasil