domingo, 20 de julho de 2014

COMO TRABALHAR A LEI Nº 10.639/2003 SUGESTÕES PARA AS DISCIPLINAS

COMO TRABALHAR A LEI Nº 10.639/2003 E AS DIRETRIZES CURRICULARES PARA A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E HISTÓRIA E CULTURA
AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA NA ESCOLA?

Temos a lei. E agora? Agora trata-se de avançarmos na articulação da lei e seus princípios norteadores com
a prática cotidiana das escolas. Como vencer as resistências dentro e fora do contexto escolar? Que abordagens fazer? Tudo isso a conselheira Petronilha aborda com propriedade e riqueza de detalhes no Parecer do Conselho Nacional de Educação que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para as Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
Apresentamos aqui algumas sugestões. Estes são frutos de atividades já desenvolvidas por vários educadores de escolas públicas do Paraná.

Sugestões de atividades para as escolas:
• realização de atividades que propiciem o contato com a cultura africana e afro-descendente, culminando em
desfiles, exposições, mostras de tetro e dança nas quais sejam apresentados penteados, vestimentas, adereços, utensílios, objetos e rituais resultantes desse processo;
• valorizar a diversidade étnica brasileira, a partir de discussões e atividades  que tenham como foco a criança e o jovem negro, a sua família em diferentes contextos sociais e profissionais;
• elaboração de pesquisas e debates sobre o espaço dos afrodescendentes e de sua cultura nos meios de comunicação de massa (em especial na TV).

Língua Portuguesa e Literatura
• Realizar com os alunos estudos e pesquisas de países que falam a língua portuguesa. o que os une? Quais as
razões? Atualmente como estão estes países? Qual a composição étnica? Diferenças do Português falado e
escrito entre eles. Exemplos: Na alimentação: vatapá, acarajé, caruru, canjica, etc. Na música: os instrumentos musicais, maracá, cuíca, atabaque, reco-reco, agogô. Na religião: umbanda e candomblé.
• Após debates em sala, a partir de textos trabalhados com os alunos, solicitar que produzam textos sobre temas como: o racismo no Brasil, a presença do negro na mídia, políticas afirmativas, cotas, mercado de trabalho, etc.
• Trabalhar com as implicações da carga pejorativa atribuída ao termo negro e outras expressões do vocabulário.
• Realizar com os alunos estudos de obras literárias de escritores negros como Cruz e Souza; Lima Barreto.
Machado de Assis; Solano Trindade, etc. destacando a contribuição do povo negro à cultura nacional.
• Incluir os conteúdos de literatura, o estudo do Teatro Experimental de negro iniciado no Rio de Janeiro em 1944 e a pesquisa sobre a Imprensa negra brasileira no início da década de 20. Alguns jornais produzidos por afrodescendentes que circularam semanalmente durante até mais de 50 anos.
• Utilizar pesquisas e revistas produzidas pela comunidade afrodescendente do seu município.
• Trabalhar a leitura e interpretação de letras de músicas relacionadas à questão racial.
• Trabalhar com os gêneros musicais do samba e rap. cultura afro
• Poesias que podem ser feitas pelas próprias crianças relacionadas ao povo afrodescendente e sua cultura. A
partir dessa literatura a criança afrodescendente constrói uma imagem da realidade social que não a inclui.
• Realizar estudos de obras brasileiras que discutam, abordem questões relacionadas a cultura afro-brasileira:
Macunaíma, Mário de Andrade; Casa Grande e Senzala, Gilberto Freyre; O Escravo, Castro Alves; Sermões do Pe.
Antonio Vieira; A Cidade de Deus, Paulo Lins; O Mulato, Aluísio Azevedo; O Bom Crioulo, Adolfo Caminha.
• Na pintura, leitura e interpretação de obras de Di Cavalcanti, Lazar Segall e Cândido Portinari que retratam a figura
do negro.

História
O professor de História precisa construir um novo olhar sobre a história nacional e regional/local, ressaltando a contribuição dos africanos e afrodescendentes na constituição da nação brasileira.
Algumas visões equivocadas sobre o negro e o continente africano devem ser desmitificadas, entre elas:
• a do negro visto como escravo: não se pode naturalizar a situação do negro como escravo. Os negros não eram escravos, foram escravizados. A África não é uma terra de escravos. Os povos africanos eram portadores de história, de saberes, conhecimentos, na maioria das vezes transmitidos pela oralidade;
• a da África como um continente primitivo: a imagem de que o continente africano é povoado por tribos primitivas em imensas florestas está presente no imaginário da maioria das pessoas. Imagem construída pelos meios de comunicação e pelos próprios livros didáticos. Na África tivemos grandes nações e impérios (como por exemplo o Egito Antigo). Muito das tecnologias utilizadas no Brasil, no cultivo da cana-de-açúcar e na mineração, foram trazidos pelos negros oriundos da África;
• a de que o negro foi escravizado porque era mais dócil, menos rebelde que os indígenas: Esta idéia está presente em boa parte dos livros didáticos. Omite-se que a história dos africanos escravizados está inserida num contexto de acumulação de bens de capital, ocorrida entre os séculos XVI e XIX, envolvendo África, Europa e Américas.
No Brasil há uma história de organização e resistência, desde as vindas nos navios negreiros, as fugas individuais e coletivas para os quilombos, a organização em irmandades, a resistência da cultura nas manifestações religiosas dos batuques e terreiros, até as formas de negociação para a conquista da liberdade;
• a da democracia racial: que se forjou na sociedade brasileira, mascarando o tratamento desigual destinado aos afrodescendentes.
Sugere-se para a disciplina de História, entre outros, o trabalho com os seguintes temas:
Estudo...
• dos grandes reinos africanos, as organizações culturais, políticas e sociais de Mali, do Congo, do Zimbabwe, do Egito, entre outros;
• dos povos escravizados trazidos para o Brasil pelo tráfico negreiro e as conseqüências da Diáspora Africana;
• das resistências do povo negro (Quilombos, Revolta dos Malês, Canudos, Revolta da Chibata e todas as formas de negociação e conflito);
• da promulgação da Lei de Terras e do fim do tráfico negreiro(1850) e o impacto das ideologias de branqueamento (darwinismo social) sobre o processo de imigração européia;
• dos remanescentes de quilombos, sua cultura material e imaterial;
• da Frente Negra Brasileira, no início dos anos 30, criada em São Paulo;
• do significado da data 20 de novembro, repensando o 13 de maio.
cultura afro  

Geografia
Sendo a Geografia a ciência cujo objeto é o espaço geográfico e suas inter-relações, caberá ao professor desta disciplina tratar dos seguintes contextos:
• População brasileira: miscigenação de povos;
• Distribuição espacial da população afrodescendente no Brasil;
• A contribuição do negro na construção da nação brasileira;
• O movimento do povo africano no tempo e no espaço;
• Questões relativas ao trabalho e renda;
• A colonização da África pelos europeus;
• A origem dos grupos étnicos que foram trazidos para o Brasil ( a rota da escravidão);
• A política de imigração e a teoria do embranquecimento no mundo;
• Localizar no mapa e pesquisar sobre a atualidade de alguns países ( como vivem, população, idioma, economia, cultura, história, música, religião);
• Estudo da organização espacial das aldeias africanas ( questões urbanísticas);
• Estudo de como o continente africano se configurou espacialmente: as (re)divisões territoriais;
• Análise de dados do IBGE sobre a composição da população brasileira por cor, renda e escolaridade no país e no município em uma perspectiva geográfica.
• Discussões a respeito de práticas de segregação racial, como as acontecidas, por exemplo na África do Sul , e
nos Estados Unidos da América..
Ensino Religioso
• Estudar a influência das celebrações religiosas das tradições afros na cultura do Brasil;
• Pesquisa sobre as religiões africanas presentes no Brasil;
• Estudo dos orixás.

Educação Artística/Arte
• A presença de elementos e rituais das culturas de matriz africana nas manifestações populares brasileiras:
Puxada de rede, Macululê, Capoeira, Congada, Maracatu, Tambor de crioulo, Samba de roda, Umbigada, Carimbó,
Côco e etc;
• Danças de natureza:
Religiosa: candomblé
Lúdica: brincadeira de roda
Funerárias: Axexê
Guerreira: Congada
Dramáticas: Maracatu
Profanas: Jongo;
• A contribuição artística da cultura africana na formação da Música Popular Brasileira: origem do Batuque, do Lundu e do Samba, entre outros;
• Poética musical envolvendo a temática do negro;
• Nossos cantores e compositores negros: A Cultura Africana e Afro-brasileira e as Artes Plásticas: máscaras, esculturas (argila, madeira, metal); ornamentos; tapeçaria; tecelagem; pintura corporal; estamparia;cultura afro
• Artistas plásticos como Mestre Didi (Bahia- Brasil) e a presença/influência da arte africana nas obras de artistas contemporâneos;
• Proposta interdisciplinar: explorar os conteúdos sobre a estrutura de Fractais (física e matemática) presentes na arte africana (penteado, arquitetura, música, estamparia, objetos decorativos, etc).
As sugestões devem ultrapassar a condição de conteúdos, para que possam ser analisados e recontextualizados pela ótica das artes e serem avaliadas esteticamente através dos elementos do movimento, do som, dos elementos plásticos: da cor, da forma, etc.

Biologia/Ciências
Sugere-se aqui algumas temáticas possíveis, a serem desenvolvidas no ensino de Ciências e Biologia, que
contemplam as Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana:
• Estudo sobre as teorias antropológicas;
• Desmistificação das teorias racistas, destituindo de significado a pseudo “superioridade” racial;
• Estudo das características biológicas (biotipo) dos diversos povos;
• Contribuições dos povos africanos e de seus descendentes para os avanços da Ciência e da Tecnologia;
• Análise e Reflexão sobre o panorama da saúde dos africanos, in loco. Essa análise deve considerar os aspectos políticos, econômicos, ambientais, culturais e sociais intrínsecos à referida situação. Neste sentido, o professor de Ciências e Biologia pode abordar os conflitos entre epidemias/endemias e o atendimento à saúde, entre as doenças e as condições de higiene proporcionadas a população bem como o índice de desenvolvimento humano (IDH).

Educação Física
Atividades que podem ser desenvolvidas nas aulas de Educação Física:
• Estudo das práticas corporais da cultura negra, em diferentes momentos históricos;
• As danças e suas manifestações corporais na cultura Afro-Brasileira;
• Os brinquedos e brincadeiras na cultura africana e sua ressignificação nas práticas corporais afro-brasileiras;
• Os jogos praticados no Brasil pelos afro-descendentes e africanos numa perspectiva histórica;
• As manifestações corporais expressas no folclore brasileiro;
• A capoeira, seus significados e sentidos no contexto histórico-social, como elemento da cultura corporal.
Através da capoeira é possível resgatar toda historicidade do negro, desde o momento em que foi retirado do continente africano. São exemplos significativos as suas danças de guerra, caça, festas, como a da puberdade e as grandes caminhadas pelas florestas. Tais elementos representam subsídios na construção de propostas para o trabalho pedagógico nas escolas.

Matemática
• Análise dos dados do IBGE sobre a composição da população brasileira e por cor, renda e escolaridade no país e no município.
• Analisar pesquisas relacionadas ao negro e mercado de trabalho no país.
• Realizar com os alunos pesquisas de dados no município com relação à população negra.

FONTE:


culturaafrocristorei.blogspot.com.b

quarta-feira, 18 de junho de 2014

♫BENÇÃO YORUBÁ♫



QUE A ÁGUA SEJA REFRESCANTE, 
QUE A CASA SEJA HOSPITALEIRA, 
QUE O MENSAGEIRO CONDUZA EM PAZ 

NOSSA PALAVRA” 

*ENCONTREI MINHAS ORIGENS*

Encontrei minhas origens
Em velhos arquivos
Livros
Encontrei
Em malditos objetos
Troncos e grilhetas
Encontrei minhas origens
No leste
No mar em imundos tumbeiros
Encontrei
Em doces palavras
Cantos
Em furiosos tambores
Ritos
Encontrei minhas origens
Na cor de minha pele
Nos lanhos de minha alma
Em mim
Em minha gente escura
Em meus heróis altivos
Encontrei
Encontrei-as, enfim
Me encontrei.
(*) O professor, poeta e pesquisador gaúcho Oliveira Ferreira da Silveira foi o idealizador do Dia da Consciência Negra


CARTA AOS ORIXÁS




Que eu seja forte, como o grito de guerra dos negros velhos, que na aflição encontraram sua força.
Que eu seja puro, como as crianças que encontraram
na morte o recomeço da vida.
E assim como os índios e caboclos das matas, eu conheça
a cura, a sabedoria, e a simplicidade.
Pra que nem na derrota, eu desista da luta e da evolução...
Que eu veja no aprendizado de hoje, minhas lições do passado.
Que eu seja guerreiro, extrovertido, como os baianos, pra que o convívio comigo mesmo seja mais que suportável.
Que eu tenha sorte no amor, na vibração das pomba giras,
minha vida eterna seja boa companhia.
E assim como os guardiões, eu seja forte, sem perder a ternura,
e não tenha medo da luta.
Pra que nem no desespero, eu perca a fé,
a noção do amor e da caridade...
E que mesmo que seja traído, que tenha inimigos,
eu não perca o amor ao próximo.
Que eu não esqueça meu caminho, que eu siga sempre a luz.
e pra me divertir, que seja como os exús, que na tristeza enxergam alegria, e nas trevas enxergam a luz.
Que eu seja criança, adulto e ancião.
Sendo puro, aprendiz e sábio.
Que eu seja sempre lembrado e testado...
Pra que minha vida não perca o sentido.
Que Ogum me proteja com sua lança de luz.
Que Oxúm me abençoe em seus grandes rios.
Que Iemanjá me lave em suas águas salgadas.
Que Xangô me mantenha em justiça.
Que Obaluae me permita ter saúde.
Que Oxóssi me traga a sabedoria.
Que Iansã abra meus caminhos.
Que Nanã me acaricie como neto.
E que quando encontrar me com o destino final
de todo ser encarnado, seja abençoado por Omulú.
Pra que me torne, um mensageiro direto de Oxalá...
Salve o povo da direita, salve o povo da esquerda...

(por Rafael Ramos @poetavadio)